LEMBRANÇA RURAL
Chão verde e mole. Cheiros de selva. Babas de lodo.
A encosta barrenta aceita o frio, toda nua. Carros de bois, falas ao vento, braços, foices.
Os passarinhos bebem do céu pingos de chuva.
Casebres caindo, na erma tarde. Nem existem na história do mundo. Sentam-se à porta as mães descalças.
“f: tão profundo, o campo, que ninguém chega a ver que é triste.
A roupa da noite esconde tudo, quando passa …
Flores molhadas. última abelha. Nuvens gordas.
Vestidos vermelhos, muito . longe, dançam nas cercas. Cigarra escondida, ensaiando na sombra rumores de bronze.
Debaixo da ponte, a água suspira, presa …
Vontade de ficar neste sossego toda a vida:
bom para ver de frente os olhos turvos das palavras,
para andar à toa, falando sozinha,
enquanto as formigas caminham nas árvores …
Cecilia Meireles (poetisa, pintora, professora, jornalista)